Geração Z: entrevista a um Estudante de Gestão de Recursos Humanos
Na primeira
entrevista da nova rubrica intitulada de “Geração Z”, o primeiro entrevistado
pelo autor do Blog, Diogo Santos, foi um estudante da Licenciatura em Gestão de
Recursos Humanos no ISCSP-UL chamado Cláudio Norte de 20 anos.
Agradeço a sua disponibilidade
em realizar esta entrevista! Muito obrigado!
Saliento ainda que,
todas as respostas às questões colocadas são da exclusiva responsabilidade do
entrevistado.
Diogo Santos (D. S.): Quais é que
foram as principais motivações ou ambições que te levaram a escolher estudar a
área de Gestão de Recursos Humanos?
Cláudio
Norte (C. N.): As minhas motivações para seguir a
área de GRH foram as pessoas, a ambição de trabalhar e conseguir influenciar um
ambiente de trabalho positivo e equilibrado em todos os pontos possíveis. Por último,
por achar que mais do que nunca é necessário valorizar as pessoas dentro das
organizações, pois a IA (Inteligência Artificial) ainda não tem competências
sociais nem criatividade: dois aspetos que ainda só as pessoas conseguem
oferecer às organizações, devendo-se assim preservar o equilíbrio entre IA e as
pessoas.
D.
S.: Ao longo do tempo, quais foram as principais mudanças que a área e a
organização dos Recursos Humanos sofreram?
C. N.: Ao longo do tempo, a área de Recursos Humanos
sofreu várias alterações de diversas perspetivas. A primeira perspetiva está na
forma como os RH eram vistos pelos restantes Departamentos da Organização,
sendo que no início os RH não se sentavam na mesa das discussões, quando havia
algum tipo de necessidade de debate na organização. Os RH não eram vistos como
essenciais, o que levava esta atividade a ser muito burocrática. Com o passar
do tempo, percebeu-se que os trabalhadores/as são seres sociais que precisam de
se sentir bem, primeiro, enquanto pessoas e depois sim como “seres meramente
económicos”. Não descartemos que a questão das gerações tem importância neste
campo, pois sabemos que houve um corte entre a Geração Y e X. Os RH passam a
ter uma importância maior nas organizações a partir de meados de 1990/2000 começando
a sentar-se à mesa quando era necessário debater sobre qualquer problema, uma
vez que a vertente humanista começou a ser um ponto fulcral para o bom
desempenho da organização. Há outra perspetiva que tem mais a ver com o
nome que a GRH adquiriu ao longo dos anos, passando de Gestão de Pessoal até atualmente
ser RH. Isto importa, na medida em que demonstra bem também a importância que
era dada às pessoas num momento inicial e a que é dada agora. Fazendo aqui uma
afirmação que pode ser polémica, mas que de polémica pouco tem, o próximo passo
da GRH será passar a ser Gestão de Pessoas. É muito fácil perceber que na
primeira questão eu não utilizo o termo Recursos Humanos para dirigir-me às
pessoas, pois acho importante o/a colaborador/a ser visto não como um recurso,
mas sim como uma peça fundamental da organização.
D.
S.: Quais as principais dificuldades e/ou desafios que um Gestor de Recursos
Humanos enfrenta no mercado de trabalho?
C.
N.: Os RH têm alguns desafios/problemas na
entrada no mercado de trabalho. O primeiro prende-se com a questão de que micro
e pequenas empresas (maioritariamente presentes no mercado) normalmente não
contam com um Departamento de RH. Ligado a isto, está o problema de várias
organizações pedirem dois anos de experiência ou mais o que se torna um
obstáculo a quem sai da faculdade, pois terá que primeiro ingressar em estágios
não remunerados, o que faz com que muitas vezes se percam profissionais de RH
pelo caminho. Outro problema é a forma como, habitualmente, os licenciados e
mestres em RH são facilmente substituídos por outro tipo de licenciados ou mestres,
desvalorizando a formação em GRH.
D.
S.: Que tipos de apoios ou soluções achas que podem ser encontradas para resolver
esses problemas ou desafios?
C.
N.: Uma das soluções era existir estágios
apoiados pela faculdade durante um maior período de tempo, para que quando se
desse a entrada no mercado profissional já houvesse a tal experiência
necessária.
D.
S.: Com a atual Revolução Tecnológica em curso, achas que os Gestores de
Recursos Humanos perdem relevo nas empresas? Isto é, achas que as empresas
podem optar, a longo prazo, por substituir os Gestores de Recursos Humanos pela
tecnologia que têm ao seu dispor?
C.
N.: Esta questão é bastante complexa. Será que
a parte burocrática dos RH pode ser substituída por tecnologia? Sim, penso que todos
os processos podem ser substituídos, mas os RH têm a parte hard e a parte soft
e é importantíssimo analisar a questão do que se trata o “soft”. A máquina
ainda não tem a capacidade de competência social e esta parte do trabalho terá de
ser, por enquanto, realizada por pessoas. A questão humanística é cada vez mais
importante no meio organizacional, sendo um dos fatores que leva à escolha de
uma certa organização por outra, que leva a que a imagem da organização esteja
protegida, que leva a que os colaboradores sejam mais produtivos. Outra questão
é criatividade, a máquina ainda não está programada para fazer algo diferente e, como já referi
anteriormente, as pessoas serão sempre parte fundamental de qualquer projeto,
sendo insubstituíveis. A volatilidade do mundo e dos mercados já não permite,
pois se uma organização fosse totalmente tecnológica, como evoluiria num caso
de necessidade de mudança de um mercado?
D.
S.: Um gestor de Recursos Humanos necessita de ter uma abrangência de
competências noutras áreas. Quais as que consideras mais relevantes?
C.
N.: Na minha opinião,
um GRH tem de ter uma abrangência de
competências noutras áreas. Na área do Comportamento Organizacional (micro,
macro e meso) é importante referir que engloba já a Psicologia e a Sociologia.
Por último, acho muito importante falar aqui de Finanças e de Direito do Trabalho, pois vários aspetos
como a liderança ou a cultura organizacional estão ligados ao Comportamento Organizacional.
A questão hard é também importante, pois o GRH tem de ter a noção e preparar
sempre os seus colaboradores para os possíveis cenários que possam ser vividos
dentro da organização, como a necessidade de despedimento ou a necessidade de
um mês mais produtivo.
D.
S.: Numa empresa, por vezes, podem existir choques entre gerações. De que modo
é que a Geração Z presente nos Recursos Humanos pode solucionar esses choques? Assim,
de que forma é que a Geração Z pode fazer a diferença e marcar a área de
Recursos Humanos?
C.
N.: As muitas gerações presentes hoje nas
organizações podem gerar choques, pois a forma como olham para a organização é
diferente. Centremo-nos na Geração X e Y, pois foi entre estas que se deu o
maior corte, gerando assim um maior choque. Enquanto a Geração X preserva muito
um trabalho que seja seguro contratualmente, por outro lado, a Geração Y já
está mais aberta a experiências e quer constantemente novos desafios. A Geração
Z pode contornar esta questão dando mais formação em competências soft e liderança
de forma a obtermos líderes 9.9 (Grelha de Blake e Mouton), para que exista
aqui uma vontade das duas gerações permanecerem na organização. A outra
questão que pode ser implementada vindo já com o colaborador é o chamamento. Esta
questão vê-se muito nos tratadores de animais dos jardins zoológico, muitos
licenciados e mestres, que trabalham todos os dias e são mal pagos. Continuam
porque aquele é o seu chamamento e em entrevista todos dizem que não trocariam
o seu trabalho por nenhum outro no mundo. Ou seja, a tarefa da Geração Z é
implementar esta vontade de não deixar a organização por nada, vestindo assim a
“camisola” de qualquer organização.
D.
S.: Como a área de Recursos Humanos requer um
envolvimento muito grande nas relações humanas, de que modo é que com a
pandemia Covid-19 os Gestores de Recursos Humanos e os estudantes da área se
conseguiram adaptar à nova realidade?
C.
N.: Atualmente, a flexibilidade e
adaptabilidade são das capacidades mais procuradas no mercado de trabalho. Tal como
em todos os departamentos, os RH também tiveram de se adaptar a esta nova
realidade. Por exemplo, algumas
organizações fazem reuniões no final do dia para manter contacto entre
colaboradores. Esta questão está ligada e muito à relação trabalho/vida
pessoal que tem de se manter equilibrada, não sobrecarregando o colaborador com
trabalho extra e fora de horas. Esta reunião permite que o colaborador perceba
que o seu horário de trabalho terminou e não continue a trabalhar fora de horas.
Outra questão é a seleção e recrutamento, conjuntamente com acolhimento e
integração. Primeiro, a entrevista passa a ser online, sendo importantíssimo
estar ainda mais atento aos sinais que o futuro colaborador nos dá. Depois de
aceite, devemos ter em atenção que o primeiro dia é importante para conversar
com os colaboradores, fazer perguntas, aprender sobre a organização e criar expectativas
baseadas nas opiniões sinceras e verdadeiras dos colaboradores para que essas
expectativas não sejam falsas, em relação ao contexto encontrado na
organização. Estes são alguns exemplos de práticas renovadas de GRH realizadas
pela pandemia que nos assombra.
D. S.: Espero que tenhas gostado desta entrevista. Estou bastante agradecido uma vez mais por teres aceite o convite!
C.
N.: Queria agradecer-te pela oportunidade
e desejar-te toda a sorte, a ti, um grande amigo que tanto merece que este
projeto cresça.
O autor do blog,
Diogo Santos
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