Geração Z: entrevista a uma estudante de Teologia

       Nesta entrevista da rubrica “Geração Z”, a entrevistada pelo autor do Blog, Diogo Santos, foi a Isabel Franco, uma estudante de 20 anos do Mestrado Integrado em Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.

Agradeço a sua disponibilidade em realizar esta entrevista! Muito obrigado!

Saliento ainda que, todas as respostas às questões colocadas são da exclusiva responsabilidade da entrevistada.


Diogo Santos (D. S.): De que forma, e quando, começou o teu fascínio pelo estudo da Teologia?

Isabel Franco (I. F.): Os meus pais envolveram-me na atmosfera cristã católica desde pequenina. Batizaram-me com dois meses de idade na Paróquia do Campo Grande, situada em Lisboa. Participei na Catequese dos seis aos catorze anos, ou seja, do primeiro ao oitavo Catecismos, em que fui recebendo formação humana, histórica e espiritual, assim como os Sacramentos de iniciação cristã (Eucaristia, Crisma) e um dos Sacramentos da cura (Reconciliação). Posteriormente, decidi entrar nos Grupos de Jovens Fraternos, graças a um convite bastante apelativo de um grupo de animadores que nos deu a conhecer a dinâmica e o objetivo dos Grupos. Apesar de ter participado apenas um ano (dos catorze aos quinze), foi fundamental, dado que foi nesse mesmo ano que senti a alegria do encontro com Jesus Cristo. Foi neste encontro que compreendi porque é que os meus pais queriam que eu frequentasse a catequese, porque é que participávamos na Missa aos domingos assiduamente, porque é que nos queriam transmitir o hábito de dialogarmos com Deus através da oração, porque é que desejavam que esta fé em Jesus Cristo estruturasse a nossa existência, entre outros porquês. Ausentei-me dos Grupos por três anos, pois decidi continuar a praticar um desporto que, infelizmente, coincidia com as reuniões e as atividades dos Grupos. Porém, este distanciamento fez com que eu quisesse prolongar aquele primeiro encontro com Jesus. Todavia, foi no decorrer do 12º ano que me senti fortemente atraída pelo aprofundamento da religião cristã, dado que não era coerente para mim afirmar que era católica sem saber o porquê de o ser. Ou seja, não queria afirmar que era católica devido ao «contágio» familiar. Senti que havia mais «camadas» para esquadrinhar e que eu necessitava de caminhar sobre essa «linguagem» para responder às dúvidas que nasciam em mim. Para além dessa necessidade intelectual, também tinha em vista aprofundar a minha relação com Jesus a nível espiritual, pois era Ele quem dava sabor a todas as dimensões da minha vida.


D. S.: Quais é que foram as principais motivações ou ambições que te levaram a escolher estudar a área da Teologia?

I. F.: As principais motivações derivaram da minha perceção de um desejo imenso de saber mais perante uma religião em que me via envolvida e com a qual me identificava. Não tinha em mente demonstrar a existência de Deus com base em argumentos científicos ou converter pessoas. Senti que tinha dúvidas infantis para a minha idade a respeito da Igreja e isso incomodava-me. Tinha receio de que estivesse a contribuir para a redução ou indiferença da «riqueza» espiritual e intelectual que a Igreja queria oferecer aos seus filhos, devido ao pouco cuidado e atenção por parte do meu ser. Então, as principais ambições foram de índole intelectual e espiritual. Desejava aprofundar a Bíblia, a questão da Santíssima Trindade, a perspetiva da Igreja sobre o aborto, a eutanásia, a Tradição, entre outros tópicos. Com efeito, esta realidade vagueava na minha mente e no meu coração e só queria um esclarecimento para toda ela. A certa altura, nas férias da Páscoa do 12º ano, fui ao encontro de um meu familiar douto e perguntei-lhe se havia algum curso que aprofundasse a Bíblia. O familiar respondeu-me prontamente que sim, referindo a Teologia. Eu fiquei tão contente que me aventurei na recolha de mais informações e debrucei-me na investigação do que é que o curso poderia oferecer. E fiquei surpreendida, pois descobri que a Teologia também estava unida à Filosofia, à Psicologia, à Sociologia, à História, à Literatura, e às línguas clássicas (Latim, Grego e Hebraico).

 

D. S.: Já estagiaste ou tiveste alguma experiência profissional na área? Se sim, conta-nos.

I. F.: Ainda não estagiei nem tive uma experiência profissional na área. Tive apenas uma experiência paraprofissional na Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia de Lisboa, em que colaborei, no primeiro ano do curso, num Departamento Auxiliar designado Departamento da Cultura. No segundo ano, participei como membro da Direção, exercendo o cargo de Vogal.

 

D. S.: Quais são as principais saídas profissionais do teu curso?

I. F.: As principais saídas profissionais são o sacerdócio, a investigação científica, a lecionação da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, serviços em órgãos pastorais, culturais, administrativos e judiciais da Igreja, desempenho de funções especializadas em ordens, congregações religiosas e movimentos eclesiais, assessoria teológica a padres e bispos, consultoria religiosa no âmbito empresarial e do setor social, trabalho em organizações de solidariedade e de diálogo inter-religioso, trabalho em organismos internacionais que requeiram conhecimentos especializados na esfera religiosa, entre outras.

 

D. S.: Depois de terminada a licenciatura, como funciona todo o processo de entrada no mercado de trabalho nesta área?

I. F.: Como acontece em todos os cursos, os formados em Teologia deverão, depois de discernida com clareza a sua vocação para a vida consagrada como padres ou consagrados num instituto religioso, ou então como leigos, analisar as oportunidades e disponibilidades de serviços na Igreja e candidatar-se de acordo com as suas predisposições, preferências, competências em sintonia com a sua orientação vocacional no seio da Igreja e na relação com o mundo.

 

D. S.: Quais as principais dificuldades e/ou desafios que uma estudante de Teologia enfrenta na entrada para o mercado de trabalho?

I. F.: À partida o curso de Teologia não é muito pensado numa lógica para atender a saídas profissionais no sentido clássico deste conceito. A Teologia é mais entendida como um curso de aprofundamento de um conhecimento especial, de discernimento e de preparação para uma realização vocacional no quadro da Igreja e da Sociedade. Entendido e cursado à luz deste ideário, depois as oportunidades de emprego irão surgindo a partir de redes de relações para atender às necessidades de serviços existentes.

 

D. S.: Existem estereótipos ou estigmas em relação à área que estudas? Se sim, quais os principais?

I. F.: Sim, existem, e de que maneira! Partilho os estereótipos que tenho escutado com mais frequência: o pequeno número de saídas profissionais; a visão de que é um curso só para formar sacerdotes e freiras; o ordenado baixo; que é um curso beato... Na verdade, este é um curso extraordinariamente fascinante que nos garante uma formação científica acima da média e nos oferece uma visão crítica da realidade que nos torna mais maduros e mais competentes para compreender as grandes questões da existência. É um curso que pode interessar a pessoas das mais diferentes áreas e com as mais diversas expetativas. Quem faz este curso, transforma-se e torna-se melhor a vários níveis.

 

D. S.: Atualmente, a pandemia Covid-19 exigiu que as diferentes áreas de estudo e de trabalho tivessem de se adaptar a esta nova realidade. Como é que a área da Teologia se moldou aos tempos que vivemos?

I. F.: A nossa Faculdade foi surpreendentemente versátil. Em março de 2020, numa quarta-feira, lembro-me que tivemos de sair a meio de uma aula, devido ao agravamento da situação pandémica, a fim de nos dirigirmos diretamente para as nossas casas. No entanto, na sexta-feira dessa mesma semana, já tínhamos nos nossos e-mails as informações necessárias para prosseguir com o semestre. As nossas aulas migraram para a plataforma Zoom, na qual todos os alunos tinham de ter a câmara ligada obrigatoriamente, e em relação ao envio de trabalhos, realização de exercícios ou testes, a plataforma Moodle foi fundamental. Nas aulas, os Professores lecionaram os conteúdos com o auxílio de slides, vídeos, documentos em pdf, entre outros formatos. A Época de Exames também decorreu via Zoom, com possibilidade de consulta.

 

D. S.: Estou grato por teres aceitado participar nesta entrevista. Espero que tenhas gostado de a fazer!

I. F.: Mariana Roque e Diogo Santos. Quero agradecer-vos por esta oportunidade. Muito obrigada!


Nota: uma recomendação da entrevistada para saberem mais sobre o curso -> https://ft.ucp.pt/pt-pt 

 


O autor do blog,

Diogo Santos

 

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