O Lado Feminista dos Protestos pró-democracia na Tailândia
Foi esta postura retrograda por parte das principais instituições da Tailândia, que levou a uma onda de manifestações, em prol da democracia e de uma mudança na mentalidade. Um dos assuntos mais abordados tem sido a discriminação que as mulheres enfrentam, especialmente, devido ao grande número de manifestantes femininas. O país nunca teve um verdadeiro movimento feminista organizado, mas estes protestos estão a ser liderados por Panusaya Sithijirawattanakul, uma estudante de Sociologia de 21 anos.
Em agosto, Panusaya leu, em frente a uma multidão, uma lista de dez exigências, entre as quais, a limitação da riqueza e do poder da realeza e que passasse a ser permitido criticar a mesma. No mês seguinte, entregou esta lista aos guardas do palácio, mesmo estando acusada de ter violado as medidas de prevenção do novo coronavírus e do crime de sedição. A oposição acusou-a de estar a ser manipulada, ao que ela respondeu que nem a própria mãe a conseguiria manipular. De facto, os seus pais tentaram demovê-la arduamente, contudo Panusaya não deixou de lutar pelos ideais que tem desde criança. Já quando estava na primária, questionava-se sobre a razão pela qual tinha de fazer desenhos do rei na escola e mais tarde, no secundário e na universidade, passou a discutir sobre a política do país com os amigos.
Para além de Panusaya, há outras ativistas que defendem os direitos das mulheres e da comunidade LGBQT+ inclusive. É o caso de Chumaporn Taengkliang, que sugeriu que se acrescentasse às exigências de Panusaya que a superioridade estrutural do homem na monarquia deveria acabar, e de Sirin Mungcharoen, que foi humilhada por ativistas pró-democracia masculinos por afirmar que os direitos da comunidade LGBTQ+ e das mulheres são essenciais para a democracia.
Desde então muitas estudantes têm protestado, nomeadamente, contra a lei do aborto e contra a classificação de produtos de higiene feminina como cosméticos, o que os torna mais caros. Quando o hino da realeza ou do país começa a tocar em assembleias da escola, estas alunas fazem a saudação de três dedos da série de ficção Hunger Games, que se tornou num dos maiores símbolos dos protestos. Efetivamente, há um grande número de alunas de escolas privadas de elite a juntarem-se aos protestos e a maioria das outras manifestantes fazem parte das classes média e alta de Banguecoque.
Em 2016, Chanida Chitbundit, a diretora do programa de
pós-graduação da Universidade Thammasat em Estudos Femininos, alertou para o
facto das mulheres de zonas rurais e com condições socioeconómicas mais baixas
serem esquecidas pelas feministas das classes média e alta da capital.
Chitbundit também sublinhou que para estas mulheres “não importa de quem
é o último nome que uso, desde que tenha dinheiro suficiente para cuidar da
boca e do estômago, desde que tenha terra da qual possa viver”. Isto
mostra que estas mulheres, que compõem mais de metade da população feminina
tailandesa, estão mais preocupadas em sobreviver do que com o código de
vestuário das escolas ou com a importância dada aos concursos de beleza na
Tailândia.
A colaboradora do blog,
Mariana Roque
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