Especial 1 Ano de Blog: a Crise na Bielorrússia
Já passou um ano desde a escalada dos protestos na Bielorrússia após a reeleição presidencial de Aleksander Lukashenko a 9 de agosto de 2020, mas a tensão política no país está longe de começar a declinar. De facto, eventos recentes demonstraram novamente a instabilidade do clima político bielorrusso e a comunidade internacional está a acompanhá-los com uma atenção que o país não retinha há vários anos.
Desde agosto de 2020, mais de 35 mil protestantes foram presos, sendo que as autoridades bielorrussas aumentaram as prisões de jornalistas independentes e ativistas da sociedade civil durante os últimos meses. (1) Ativistas de direitos humanos no país afirmam que há mais de 480 presos políticos. (2) Ex-detidos descreveram espancamentos, posições de stresse prolongado, choques elétricos e ferimentos graves, incluindo fraturas, queimaduras elétricas ou lesões cerebrais traumáticas leves no seguimento da sua detenção. Pelo menos quatro manifestantes morreram em consequência das ações policiais. (2)
No que toca aos esforços de Lukashenko para se defender das críticas que lhe são apontadas a si e ao seu governo, o presidente bielorrusso afirmou que as inúmeras prisões se devem ao facto de que os ativistas da sociedade civil e protestantes não passam de “bandidos e agentes estrangeiros” que pretendem causar caos e desordem no país. Porém, ainda em novembro de 2020, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa concluiu que as eleições presidenciais foram fraudulentas e que as forças de segurança bielorrussas cometeram "violações massivas e sistemáticas dos direitos humanos" em resposta a manifestações e protestos pacíficos. (3)
Protestos da oposição bielorrussa, em
Minsk, a 27 de setembro de 2020.
Fonte da Imagem: © TUT.BY, AFP
Um caso desta natureza que ganhou destaque nos media foi a prisão do
jornalista dissidente Roman Protasevich, a 23 de maio de 2021, após o desvio de um avião da
Ryanair para a capital de Minsk pelas autoridades bielorrussas. Após este
incidente, que foi largamente condenado pela comunidade internacional, a
Bielorrússia ficou ainda mais isolada, sendo a Federação Russa a sua única
aliada.
Efetivamente, após o reforço de sanções de bloqueio total contra nove empresas estatais na Bielorrússia pelos Estados Unidos da América e a imposição de novas sanções económicos pela União Europeia à Bielorrússia como resposta à prisão de Protasevich, Putin defendeu publicamente a sua aliada da Europa do Leste. Após uma reunião com Lukashenko no final de maio de 2021, Putin elogiou os fortes laços económicos entre a Rússia e a Bielorrússia e chamou as críticas a Minsk de "uma explosão de emoções". (4)
É de notar que o desvio do avião e a subsequente prisão do jornalista ocorreu pouco depois da oposição ter pedido novos protestos em massa no país no dia da Vitória, a 9 de maio de 2021. (5)
Para Pavel Latushko, antigo ministro da
Cultura e um dos principais líderes da oposição bielorrussa, a perseguição a esta é “o pior terror que a Europa tem
visto nos últimos 40 anos”. Segundo a sua visão, a nova onda de protestos no dia da Vitória enviaria um
sinal à comunidade internacional e mostraria que o povo bielorusso não concorda
com a “falsificação” das eleições de 2020 e com a violência do
regime contra a oposição e os protestantes.
Já as sanções que foram impostas à Bielorrússia não parecem agradar a todos. Pavel Latushko considera que as sanções eficazes ainda não existem e pede à União Europeia para impor restrições mais duras, tal como as sanções económicas impostas à Rússia. Latushko acredita que as sanções impostas no país contra 88 pessoas e 7 empresas “que não têm qualquer significado para a economia do país” só servem para fins de propaganda contra o Ocidente por Lukashenko. (4)
Finalmente,
vale notar que a ONU, a OSCE e o Conselho da Europa condenaram as autoridades
bielorrussas pela violenta resposta aos protestos. Muitos países da Europa,
incluindo Alemanha, Estados Bálticos, República Checa, Polónia, Eslováquia e
Reino Unido, declararam o voto ilegítimo e não reconhecem mais Lukashenko como
presidente. Os Estados Unidos também se recusaram a reconhecer Lukashenko como
presidente e condenaram a violência contra manifestantes e detenções de
apoiantes da oposição. (2)
Apesar
do seu isolamento, das críticas feitas pela comunidade internacional e opinião
pública, e das sanções impostas à Bielorrússia, Lukashenko parece estar longe
de afrouxar o aperto rígido que exerce sobre o país, pelo que se espera que o
descontentamento e revolta da sociedade civil continue a permear o futuro clima
político bielorrusso.
A
colaboradora do blog,
Margarita Churaeva
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(2) Human Rights Watch, World Report 2021, disponível em: https://www.hrw.org/world-report/2021/country-chapters/belarus [consultado a 11/08/2021]
(5) Euronews, Oposição pede novos protestos na Bielorrússia, disponível em: https://pt.euronews.com/2021/05/07/oposicao-pede-novos-protestos-na-bielorrussia [consultado a 10/08/2021]
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