A Crise na Bielorrússia
O ano de 2020 não tem sido fácil para ninguém e bem o podem dizer os Bielorussos, após as eleições que decorreram este mês de agosto, no passado dia 9.
Alexander Lukashenko tem sido Chefe de Estado da Bielorrússia desde 1994, tendo vencido as últimas 5 eleições sem uma oposição de grande relevância. Pela duração do seu mandato, de 26 anos, e pelas várias acusações de táticas repressivas contra a oposição, foi apelidado de “último ditador da Europa”. Várias críticas foram feitas ao seu governo, destacando-se a persistência da fraude eleitoral no país, a repressão política e, mais recentemente, a postura do governo relativamente à pandemia.
Quando se soube que Lukashenko pretendia
concorrer para um sexto mandato, todas estas críticas, tanto por parte da
oposição como da opinião pública, culminaram nos protestos que tiveram início
ainda antes das eleições, mas que inundaram os media e impactaram
indivíduos ao redor do mundo sobretudo após as eleições terem ocorrido.
Apelidados de “Revolução Anti-Barata”
– sendo fácil imaginar quem é a barata em questão – os protestos incluíram
manifestações, bloqueios de estradas, desobediência civil pacífica e greves,
sobretudo em Minsk. Têm como objetivos a renúncia de Lukashenko da sua posição
como Chefe de Estado e do seu governo, a realização de novas eleições livres e
democráticas e ainda a libertação dos presos políticos e dos milhares de
manifestantes que foram presos durante os protestos.
Uma das vozes mais proeminentes a
criticar o governo de Lukashenko e a natureza fraudulenta das mais recentes
eleições é Sviatlana Tsikhanouskaya, líder da oposição e candidata presidencial.
Refugiada desde 11 de agosto
na Lituânia, em 14 de agosto fez várias
alegações de que fora ela a vencer as eleições presidenciais com cerca de 60% a
70% dos votos, ao contrário da informação liberada pelo Estado, que concedia
uma esmagadora maioria dos votos a Lukashenko, de 80,23%. Tsikhanouskaya ainda
anunciou a criação de um “Conselho de Transição”, que pretendia
facilitar a transferência de poder de forma pacífica do governo de Lukashenko
para o vencedor das eleições livres e justas que entretanto se realizariam. Segundo
a própria: "As eleições de 9 de agosto não
foram justas nem transparentes. Os resultados foram falsificados. As pessoas,
que foram defender os seus votos nas ruas das suas cidades por toda a
Bielorrússia, foram brutalmente espancadas, presas e torturadas pelo regime que
se apega desesperadamente ao poder.”
A parte final da sua
declaração leva-nos aos protestos em si, e o porquê de várias entidades ao
redor do mundo considerarem que a ação do Estado Bielorusso nesses protestos
foi uma afronta aos direitos humanos.
Manifestante
com bandeira da República Nacional Bielorrussa de 1918, em frente às forças
policiais. Fonte da
Imagem: br.sputniknews.com
Imagens e relatos da
violência das autoridades Bielorussas espalharam-se rapidamente, tão mais
chocantes quando essa violência aparentava ser exercida sobre manifestantes totalmente
pacíficos. Por outro lado, as detenções dos manifestantes pareciam ser, em
muitos casos, totalmente arbitrárias, e poucos dias após as eleições o número
de detenções já ultrapassava as seis mil.
Esta situação não deixou
ninguém indiferente e já se realizou uma cimeira extraordinária na UE, no dia
19 de agosto, para debater a resposta à crise que se vive de momento na
Bielorrússia. Ursula von der Leyen anunciou sanções financeiras contra os
indivíduos responsáveis pela fraude eleitoral e pela supressão violenta dos
protestos.
No entanto, é preciso ter em conta que esta situação está longe de ter um ponto final e novos desenvolvimentos acontecem semana a semana, portanto é do maior interesse continuar a acompanhar a evolução dos protestos, especialmente na perspetiva dos direitos humanos. A sua violação jamais deve ser ignorada ou esquecida.
A colaboradora do blog,
Margarita Churaeva
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